2 de jun. de 2010

Manual para novos Técnicos e Jogadores da SEP

Ao Futuro Técnico do Palmeiras
Estadão, 5 - 7 - 2009
Por Ugo Giorgetti (By Palestrinos)

Seria muito importante para o futuro treinador do Palmeiras, seja ele quem for, tentar entender como é a torcida do time que vai treinar. Isso vale também para jogadores. Como se trata de uma torcida muito grande, talvez esteja completamente errado nas minhas conclusões. Mas tenho observado seu comportamento por anos e anos. Portanto posso humildemente, arriscar algumas considerações.

Não esperem, futuros treinadores e jogadores, um incondicional apoio dos torcedores. Ele nunca virá. Não esperem vibração e empolgação a penas por solidariedade ao time. O palmeirense tal qual eu o vejo não vai ao estádio para empurrar o time. Vai para.ver o time. O time é que tem que cumprir seu papel e jogar bola.

Essa torcida se acostumou ao longo dos anos a glorificar, não o jogador vibrante, raçudo, que disputa cada bola e sua a camisa. É claro que um ou dois desses jogadores não fazem mal a ninguém. Portanto não é estranho que Pierre, como foi Dudu no passado, seja Ídolo. Mas um Pierre está mais do que bom. Ela aprecia realmente o craque. Já houve jogadores lendários no Palmeiras que detestavam a mais leve dividida, Jorge Mendonça, entre muitos outros. Mas jogava. E não era burro.

A torcida o, Palmeiras tem particular aversão pelo jogador, digamos, de inteligência um pouco limitada. Ela precisa, necessita e aprecia categoria e classe: 0 maior ídolo do clube em anos não tão distantes, Ademir da Guia, não era nenhum lutador, nem corria com entusiasmo atrás de cada bola. E foi, mais do que aplaudido, venerado por anos.

Entendo, perfeitamente as queixas que treinadores.e jogadores fazem quanto ao procedimento da torcida. Mas, por favor, compreendam que esse é um time diferente. E tem uma torcida diferente: Ela não acha que tem qualquer poder de mudar o resultado e nem quer. Ao contrário da torcida do Corinthians, por exemplo, tem superstições nem acredita em forças além das que estão no campo. Acredita no poder do time e espera vê-lo expressando.

Não aceita de forma alguma qualquer jogador. É extremamente observadora e sabe distinguir rapidamente as limitações de um jogador por pequenos detalhes, mínimas pistas, que talvez passassem desapercebidos por outras torcidas. E ao identificar o jogador inadequado é impiedosa.

Por isso o Parque Antártica é tão perigoso: O time entra em campo e, mesmo quando a torcida desconfia de alguns jogadores, tudo é uma festa. Dura pouco. Lá pelos vinte minutos o torcedor, realista como é, já se convenceu de que jogadores ruins continuam ruins e que não se operou nenhum milagre desde a última partida. Quando o primeiro tempo acaba em 0 a 0; o time já sai para o vestiário debaixo de vaias. E o técnico também. E também os dirigentes.

Os treinadores, em especial, sempre reclamaram muito da chamada "turma do amendoim". Mas ela é ó que há de mais representativo da torcida do Palmeiras. Ela é igual ao resto da torcida, só mais ouvida porque seu lugar fica logo atrás do banco de reservas, o que, aliás, é uma sorte para os treinadores. Se o banco ficasse do lado das populares seria ainda pior. Mas é essa atitude intolerante, que recusa que o time seja menor do que sempre foi, que, mantém o que há de grande no Palmeiras.

Por isso, caros treinadores e jogadores, tenham paciência com os torcedores, porque eles não terão nenhuma paciência com vocês.

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